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O que é o inconsciente? Algo que nos habita, mesmo sem consciência

  • Foto do escritor: Jéssica Domingues
    Jéssica Domingues
  • há 5 dias
  • 3 min de leitura

“Por que repito sempre os mesmos erros?”

“Por que sonho com algo que parece sem sentido, mas me inquieta por dias?”

“Por que digo uma coisa quando, na verdade, queria dizer outra?”


Perguntas como essas apontam para algo em nós que não se submete inteiramente à vontade ou à razão. Algo que escapa, insiste, retorna. Na psicanálise, chamamos isso de inconsciente.


O inconsciente: mais do que um depósito de lembranças reprimidas


O inconsciente não é apenas um repositório de conteúdos reprimidos, aguardando para serem revelados. Essa dimensão existe — o recalque é um dos mecanismos centrais da constituição psíquica —, mas há mais do que isso.


Como diz Freud em 1915:

“Não devemos conceber o inconsciente apenas como o local do reprimido. Há conteúdos que são inconscientes por natureza, nunca foram conscientes e não se tornariam conscientes senão por mediações muito especiais.”

Além do reprimido, o inconsciente abriga cisões, elementos arcaicos, pulsionais, pré-verbais. Ele é um sistema — um modo de funcionamento da vida psíquica — e sua lógica não obedece à linearidade da razão.


O que é o inconsciente? Algo que se expressa sem pedir permissão. Ele manifesta — e insiste


O inconsciente se manifesta nas pequenas falhas da linguagem, nos sonhos, nos atos falhos, nos sintomas, nas repetições. Ele não está à espera, escondido em algum lugar: ele opera. E sua operação pode ser surpreendente, pois diz algo do sujeito — e, muitas vezes, diz apesar do ego do sujeito.


Há uma linguagem que escapa ao controle consciente. Uma cena interna que se repete, que se desloca, que insiste. E o sujeito participa dessa cena, mesmo quando não tem clareza sobre seu enredo.


O ego não é mais senhor em sua própria casa


Freud afirmou em 1917:

“O ego não é mais senhor em sua própria casa.”

Isso não significa que estejamos à deriva, mas que não somos totalmente transparentes a nós mesmos. Há em nós camadas que não concordam entre si, forças que se opõem, desejos que se contradizem.


A crença de que somos plenamente racionais, coesos e conscientes de tudo o que sentimos pode se sustentar como uma fantasia onipotente infantil. Reconhecer que há em nós algo que nos escapa não é sinal de fraqueza, mas de complexidade.


O que a análise escuta?


Na clínica, o que se escuta não é apenas o que se diz, mas o que emerge apesar do dito. As repetições, os tropeços, os silêncios — tudo isso pode ser via de acesso ao inconsciente. A escuta analítica aposta na construção de um espaço em que o sujeito possa se implicar com aquilo que não domina em si mesmo.


Isso não significa “descobrir verdades escondidas”, mas sustentar uma experiência que permita ao sujeito ouvir algo novo sobre si — e, talvez, criar novas formas de estar no mundo.


Os sonhos: uma das vias do inconsciente


No texto anterior, falei sobre os sonhos como uma das formas mais potentes de manifestação do inconsciente. Quando sonhamos, algo se apresenta sob forma de imagens, deslocamentos, encenações. O sonho fala, ainda que em outro idioma.


Mesmo quando o conteúdo parece sem sentido, há ali uma construção: o inconsciente trabalha, e o sujeito sonha. A análise é um lugar em que se pode escutar esse trabalho.


Um convite à escuta


O inconsciente nos habita — mesmo quando o ignoramos. Ele não é um inimigo, nem um segredo a ser revelado. É parte de nós, e pode ser escutado. Talvez a pergunta não seja apenas “o que é o inconsciente?”, mas:


O que em mim está tentando falar — e eu ainda não consegui ouvir? Referências:

  • Freud, S. (1915). O inconsciente.

  • Freud, S. (1917 [1915]). Uma dificuldade no caminho da psicanálise.

  • Freud, S. (1900). A interpretação dos sonhos. 

  • Freud, S. (1901). Psicopatologia da vida cotidiana.



Ilustração delicada de uma mulher de cabelos castanhos e ondulados, com expressão tranquila e flores crescendo do peito e do rosto, como se fizessem parte de seu corpo. O fundo é azul, com elementos simbólicos como uma chave, uma lua cheia, um olho e pétalas flutuando, evocando o universo do inconsciente de forma suave e poética.



 

 


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